quarta-feira, 13 de junho de 2007

plano.



O quadro está vazio. Começo a enchê-lo com as palavras
que sobram do próprio vazio. São palavras brancas sobre
o negro do quadro. Digo-as, e quando as digo apago-as,
para que outras apareçam sobre o vazio que elas deixam.
A lógica do quadro é esta: fazer com que o apagador tenha
uma função, para que o giz se gaste. Vi o giz suceder ao giz,
à medida que as palavras sucediam às palavras, enquanto
um pó de sílabas se acumulava no chão dos dicionários.
Varri-o com a vassoura da tarde. Vi as sílabas voarem
numa alucinação de insectos. Matei-as, uma a uma, de
encontro ao vidro da janela; e à medida que caíam, voltavam
a juntar-se, em novas palavras, que eu metia no quadro
vazio até o negro do quadro ficar branco de palavras.

Nuno Júdice

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei imenso desse texto =) beijo

Clara Mafalda disse...

lindissimo*

Anónimo disse...

:O qe bonito @

ja te disse qe adoro as tuas fotos? <3 e a do post 'escolhas': :O